Conferência TFI Chicago: Insights sobre os Mercados de Fertilizantes

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A World Fertilizer Conference do The Fertilizer Institute (TFI), realizada de 15 a 17 de setembro de 2025 em Chicago, é um dos eventos mais proeminentes e influentes da indústria, reunindo os principais stakeholders para discutir os fatores determinantes dos preços e do comércio de fertilizantes nos próximos meses.

Ao longo da conferência, uma ampla gama de temas críticos foi abordada. Milton Sato, Head de Inteligência de Mercado Global da FertiStream, compartilhou perspectivas sobre as principais tendências que moldam os mercados globais de fertilizantes, destacando que as discussões revelaram especial preocupação com a evolução dos mercados dos Estados Unidos e do Brasil, as incertezas persistentes em torno do Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da União Europeia e as recentes mudanças na política de exportação da China.

América do Norte: Perspectivas para os EUA

Um dos principais temas discutidos foi a política tarifária contraditória adotada pelas autoridades norte-americanas. Muitos participantes expressaram frustração pela falta de uma direção clara em relação às tarifas dos EUA sobre as importações de fertilizantes.

Por exemplo, um grande produtor norte-americano de fertilizantes observou que o governo pode eventualmente reduzir as tarifas de importação sobre fertilizantes provenientes dos países do Golfo Árabe, o que poderia alterar a dinâmica de preços enfrentada pelos importadores ao competirem por cargas destinadas a diferentes mercados. A principal conclusão é que os importadores provavelmente continuarão cautelosos, evitando novos compromissos para prevenir potenciais perdas diante de possíveis mudanças abruptas de política — especialmente porque o governo dos EUA continua a oferecer pouca clareza.

No que diz respeito ao consumo doméstico de fertilizantes, os agricultores norte-americanos esperam uma área de plantio de milho considerável na próxima temporada. Embora não se espere que atinja níveis recordes, os retornos do milho parecem atualmente mais atrativos do que os da soja. No entanto, devido à fraca procura de exportação por parte da China, as decisões finais dos agricultores sobre se irão destinar mais área ao milho provavelmente serão tomadas apenas em meados de 2026.

Ao mesmo tempo, fortes intenções de plantio de milho deverão sustentar a procura por fertilizantes, especialmente por produtos à base de nitrogênio — incluindo amônia, UAN e ureia — que permanecem essenciais para a produção agrícola dos EUA.

América do Sul: Dinâmicas do Brasil

No Brasil, importadores e fornecedores concentraram as suas discussões em duas dinâmicas-chave do mercado. A primeira diz respeito ao forte aumento das importações de sulfato de amônia (amsul) da China, que cresceram 1,9 Mt no acumulado do ano, alcançando 4,9 Mt — substituindo efetivamente a ureia como principal fonte de nitrogênio. No mesmo período, as importações de ureia caíram 900 Kt, para 3,7 Mt. As exportações chinesas de amsul para o Brasil têm aumentado rapidamente nos últimos anos e agora caminham para atingir 21 Mt em 2025, uma alta de 25% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, as importações totais brasileiras de amsul devem alcançar 7,5 Mt, um aumento de 2,3 Mt em comparação com o ano passado.

Os agricultores têm adotado amsul como uma fonte de nitrogênio mais barata, substituindo a ureia. Como resultado, o amsul tornou-se a referência para o valor do nitrogênio no Brasil, reforçando a perda de domínio da ureia no mercado.

A segunda dinâmica-chave é o aumento notável das importações de fosfatos de baixa concentração provenientes da China, especialmente os graus 8(N)-40(P) e SSP. Espera-se que esses produtos aumentem 1,7 Mt, atingindo 5,1 Mt, já que os fornecedores os têm oferecido a preços agressivos, levando a uma queda nas importações de MAP — que devem recuar 800 Kt, para 3,1 Mt. Consequentemente, o MAP passou a ser visto como parte da categoria “supervalorizada”, enfrentando dificuldades para competir com alternativas mais acessíveis e amplamente disponíveis.

Europa: Incertezas em torno do CBAM

Vários stakeholders-chave partilharam as suas perspectivas sobre o próximo Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da União Europeia, cuja implementação está prevista para janeiro de 2026. Uma grande preocupação entre os participantes do mercado que operam na Europa é que Bruxelas ainda não especificou o custo exato de carbono que cada fornecedor terá de arcar quando o CBAM entrar em vigor.

A Comissão Europeia ainda não definiu as “regras do jogo” para o programa e, sem essa clareza, compradores e vendedores continuam impossibilitados de calcular os custos de substituição das importações, o que gera incerteza e limita o comércio.

China: Avaliação da Política de Exportação

Durante a conferência, importadores, distribuidores, traders e produtores discutiram a rígida política de exportação da China e o recente sistema de cotas para ureia e fosfato. Implementadas por Pequim no final de 2023 e estendidas para 2024, essas medidas têm como objetivo garantir o abastecimento interno e estabilizar os preços locais.

Os traders mostraram especial interesse em saber se a China emitirá cotas adicionais de exportação de ureia antes da próxima licitação da Índia e se os embarques de fosfato continuarão durante novembro e dezembro — ou se será aplicada uma suspensão completa das exportações até o final de outubro.

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